Sinto a obrigação de dedicar este modesto escrito semanal à viagem apostólica a Portugal do Sumo Pontífice, o Papa Bento XVI, sucessor de Pedro na orientação da Igreja Católica Universal.
O seu discurso de saudação ainda no aeroporto, marcou toda a sua visita que, na hora em que escrevo, ainda está no seu início. Bento XVI evocou as comemorações do centenário da República portuguesa no primeiro discurso que proferiu à chegada a Lisboa, relevando a importância da imprescindível colaboração entre Igreja e Estado e afirmou: "A viragem republicana, operada há cem anos, abriu, na distinção entre a Igreja e o Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja".
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Foram diversos os conteúdos realçados, conforme a posição sociológico-religiosa do comentador jornalístico, mas uma deixou marca corajosa, para quase todos e também para nós: a que deu titulo a este “ponderando”. Falando aos jornalistas ainda no avião, o Papa comentou os escândalos de pedofilia que têm afectado a imagem da hierarquia católica: "A Igreja tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, aceitar a purificação e implorar perdão". Lembrando o “3º segredo de Fátima” sobre os sofrimentos do Papa, revelado no ano 2000, sublinhou que os ataques ao Papa e à Igreja não vêm só de fora, esses sofrimentos da Igreja vêm do seu próprio interior, do pecado que existe na Igreja", declarou referindo-se aos diversos casos de pedofilia envolvendo membros do clero católico divulgados em vários países, tendo já levado o papa a aceitar demissões de bispos da Irlanda, Bélgica, Alemanha ou Noruega. Bento XVI confessou o seu sofrimento perante esta situação, que surge agora de uma forma "verdadeiramente aterradora". Para o Papa, os membros da Igreja devem estar "prontos" para os "ataques do mal", externos e internos, mas também deixou uma palavra de esperança para os fiéis: "As forças do bem estão presentes e, no final, o Senhor é mais forte do que o mal", afirmou, sublinhando que "a bondade de Deus é a última palavra da história".
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Deixo-vos ainda outras reflexões:
- Francisco Sarsfield Cabral (Rádio Renascença) já antes da chegada do Papa comentava que “A Igreja é perita em humanidade, por isso aponta valores. O Papa vai apontar aquilo que é essencial e o que é essencial não é a riqueza nem o crescimento económico – também é importante – mas é a redução da pobreza”, e depois destacou da mensagem dirigida por Bento XVI: “A religião católica é hoje minoritária em Portugal e o Papa encara com naturalidade que o Cristianismo, sendo minoritário, tenha de ser mais vivo e autêntico”;
- O padre Feytor Pinto realçou que “O Papa, que se apresentou como um peregrino de Fátima à chegada a Portugal, chamou à cidade que alberga o Santuário “uma janela de esperança”: “É curioso que o Papa traga uma mensagem nova, até na maneira de ver Fátima”. E continua: “Outro assunto importante é a universalidade da mensagem cristã. O Papa afirma que é urgente recordar as verdades do Evangelho, que são para toda a humanidade, não só para os cristãos. A Igreja tem obrigação de levar estas verdades ao mundo inteiro e o mundo procura estas verdades, basta ver, por exemplo, a declaração dos direitos humanos, referiu também que Bento XVI abordara a relação do homem com Deus, afirmando que esta é “constitutiva do Ser Humano”. E continuava: “Podemos descobrir Deus à nossa maneira, mas não podemos fechar o coração a Deus”, a linha principal do discurso do Papa e tenho acompanhado as suas principais intervenções desde a sua eleição, tem sido sobre o sentido da vida e o ordenamento justo da sociedade. Não se trata de um confronto entre sistema laico e religioso, mas de um problema de sentido. Há tanta gente preocupada com o imediato, perdem o sentido da vida, aceitam como normal a ameaça à vida quando a vida traz dificuldades. O Papa vem trazer esta perspectiva - é preciso descobrir o sentido da liberdade da própria vida” conclui Feytor Pinto.
Para além da grandiosidade de todas as restantes manifestações de fé, seja em Lisboa, Fátima ou no Porto, uma ficar-me-á sempre marcada: a soberba interpretação do Ave Verum, de Mozart, um dos compositores que Sua Santidade mais admira, pelo coro de oitenta crianças que o acolheu no Mosteiro dos Jerónimos, imediatamente antes dos momentos em que o Papa ficou recolhido em oração, na grandiosidade daquele magnifico templo e épico monumento nacional…
Como diz Sarsfield Cabral “o que é essencial é a redução da pobreza”… mas, para nós, a música ainda é o mais sublime complemento da religião…
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